Você acha que o glaucoma é ter a pressão dos olhos elevada?
Pois glaucoma não é ter a pressão do olho elevada. No entanto, há uma relação entre a pressão ocular elevada e o glaucoma.
Afinal, o que é glaucoma?
O glaucoma é uma doença ocular que gera lesões ao nervo óptico. Como as lesões às fibras nervosas do olho são irreversíveis, consequentemente elas levam à perda da visão. O nervo óptico é responsável por enviar ao cérebro as informações visuais. Dessa forma, quando ele é danificado, e caso a pessoa não receba o tratamento adequado, a capacidade de enxergar pode ficar comprometida por completo e permanentemente. Por isso, é essencial ser diagnosticado o quanto antes, a fim de evitar a perda de visão pelo glaucoma.
O glaucoma é uma doença silenciosa que não apresenta sintomas em sua fase inicial, por esse motivo alguns pacientes demoram a procurar atendimento oftalmológico, ocasionando uma piora no quadro clínico. O glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Quais são as causas?
O glaucoma surge principalmente em pessoas com predisposição genética, mas também está relacionado a outras condições, como o uso de medicações com corticóide, após cirurgias oculares e depois de outras doenças oculares como uveíte, retinopatia diabética, oclusão venosa, dentre outras.
Tipos de glaucoma
O glaucoma é uma doença com alta incidência, cerca de 2,4 milhões de novos casos anualmente no mundo segundo a OMS. Existem diferente tipos de glaucoma. Confira a seguir quais são eles:
Glaucoma de ângulo aberto
O glaucoma primário de ângulo aberto é o tipo mais comum, frequentemente associado à elevação da pressão intraocular. É caracterizado por não apresentar um causa identificável da obstrução do trabeculado, que é o local de escoamento do excesso de líquido do olho. Funciona assim: a pressão do olho é determinada pelo balanço entre a produção e a drenagem do humor aquoso (líquido que circula dentro do olho). Uma redução no funcionamento dessa estrutura ocasiona a diminuição da saída do humor aquoso do olho, o que leva ao acúmulo de líquido dentro do olho e, consequentemente, ao aumento da pressão ocular. Quando o paciente apresenta ângulo aberto, pressão ocular normal ou baixa e lesão típica de glaucoma no nervo óptico, sua condição é chamada de glaucoma de pressão normal.
Glaucoma de ângulo fechado
Esse é o segundo tipo mais frequente de glaucoma. O paciente apresenta um ângulo estreito, ou seja, pouco espaço entre a córnea e a íris, levando à obstrução mecânica do trabeculado pela íris e elevação da pressão. Esse aumento pode ser súbito — chamado de crise aguda de glaucoma — ou lento — o que constitui o glaucoma primário de ângulo fechado.
Glaucoma congênito
Trata-se de uma forma rara, porém muito grave de glaucoma que aparece logo após o nascimento ou ainda nos primeiros meses de vida. Ocorre por uma malformação congênita do trabeculado e consequente elevação da pressão ocular. É considerado uma urgência médica, por isso deve ser diagnosticado e tratado rapidamente.
Glaucoma secundário
Esse tipo de glaucoma ocorre como consequência de outros problemas oculares, tais como trauma, uveíte e retinopatia diabética. Também pode decorrer de complicações após cirurgias no olho ou uso de corticoide. Costuma ser grave e de difícil controle.
QUAIS SÃO OS FATORES DE RISCO?
- Pressão ocular elevada (>21 mmHg). Pressão baixa não descarta o diagnóstico de glaucoma, inclusive observa-se um número razoável de portadores de glaucoma que apresentam pressão abaixo desse valor;
- Idade acima de 40 anos. O risco aumenta progressivamente a cada década;
- Afrodescendência;
- Uso prolongado de medicamentos à base de corticoide;
- Traumas ou doenças oculares, como descolamento de retina, inflamações e catarata, dentre entre outros;
- Histórico familiar de glaucoma.
SINTOMAS DO GLAUCOMA
A grande maioria dos pacientes é assintomática: não sente nada e não percebe a perda de visão inicial pelo glaucoma, que geralmente acomete primeiro a visão periférica. Em geral, o portador de glaucoma só detecta a redução da visão quando o problema já está bem avançado.
Sintomas do glaucoma de ângulo fechado
- Dor severa e súbita em um dos olhos;
- Visão embaçada;
- Náuseas e vômitos;
- Vermelhidão nos olhos;
- Dor de cabeça.
Sintomas do glaucoma congênito
- Alta sensibilidade à luz;
- Lacrimejamento;
- Fechamento involuntário das pálpebras;.
- Aumento do globo ocular;
- Olho com coloração acinzentada.
Como diagnosticar o glaucoma?
Quem pode realizar o diagnóstico de glaucoma é o médico oftalmologista através de um exame oftalmológico completo. O oftalmologista irá analisar a pressão do olho, detalhes da parte anterior do olho, o trabeculado (através de um exame chamado gonioscopia) e o fundo de olho, a fim de avaliar o nervo óptico.
É muito importante realizar uma avaliação mais minuciosa com exames complementares para identificar a presença de lesão na estrutura e funcionamento do nervo óptico, para assim confirmar o diagnóstico de glaucoma. Além disso, os exames também servem para avaliar a severidade e o grau de evolução da doença.
Principais exames complementares
- Tomografia de Coerência Óptica Swept-Source (OCT) – Imagem digital de alta precisão que permite visualizar áreas do olho, como o nervo óptico e a retina, com detalhamento. O OCT é um dos exames principais para detecção precoce do glaucoma.
- Retinografia – Foto do fundo de olho é importante para documentar a lesão do nervo óptico e avaliar a sua progressão. Alguns aparelhos permitem realizar o exame sem a dilatação da pupila.
- Biomicroscopia de fundo de olho e mapeamento de retina – Possibilitam a avaliação do nervo óptico.
- Campimetria – Mensuração do campo de visão do paciente. Permite avaliar a extensão da perda de visão pelo glaucoma.
- Tonometria – Medida da pressão intraocular.
- Gonioscopia – Uso de lentes especiais para analisar o trabeculado.
- Paquimetria – Avaliação da espessura da córnea, já que o conhecimento dessa característica influencia na interpretação da medida da pressão do olho. Córneas muito grossas ou muito finas promovem erros na medida da pressão, para mais ou para menos, respectivamente.
Tratamentos para glaucoma
A finalidade do tratamento é reduzir a pressão ocular. Esses cuidados podem variar de acordo com o tipo de glaucoma, assim como a gravidade da doença.
Tratamento do glaucoma primário de ângulo aberto
As evidências científicas mais atuais apontam para que o tratamento seja iniciado com laser através da trabeculoplastias seletiva, método bastante seguro e muito eficaz na redução da pressão ocular. Esse laser é aplicado ambulatorialmente, não requer internação nem anestesia, assim não exige afastamento das atividades cotidianos e pode ser repetido a critério do médico oftalmologista.
Na sequência o tratamento pode ser feito com colírios que apresentam boa eficácia na redução da pressão. A inconveniência fica por conta dos efeitos colaterais e do risco de o paciente esquecer de usar, embora trate-se de um risco maior para pessoas que usam muitas medicações diferentes. Pacientes que não apresentam boa resposta ao laser e aos colírios podem precisar de tratamento cirúrgico.
Tratamento do glaucoma de ângulo fechado
O tratamento do glaucoma de ângulo fechado na fase inicial pode ser com um tipo diferente de laser – a iridotomia – com associação de colírios na sequência. Alguns pacientes podem se beneficiar da cirurgia de catarata para controle da pressão, quando é a catarata que está causando a elevação da pressão. O paciente com crise aguda de glaucoma deve receber tratamento com urgência devido à gravidade do quadro e risco de perda visual.
Tratamento do glaucoma congênito
Esse tipo de glaucoma normalmente requer cirurgia com brevidade.
Tratamento do glaucoma secundário
O controle do glaucoma secundário pode ser através do uso de colírios. Em alguns casos, indica-se o tratamento a laser ou, até mesmo, cirurgia. O glaucoma neovascular é um dos tipos mais graves de glaucoma secundário, geralmente causado por problemas nos vasos da retina (retinopatia diabética e oclusão venosa). Nesse caso, o tratamento deve ser com a aplicação intravítrea de antiangiogênico e implante de drenagem antiglaucomatoso.
Cirurgias para glaucoma
CIRURGIAS MINIMAMENTE INVASIVAS PARA TRATAMENTO DO GLAUCOMA
Normalmente reservada para pacientes com glaucoma leva a moderado que vão operar a catarata. Dentre elas temos GATT, iStent. O GATT consiste na abertura de toda extensão do trabeculado para aumentar a drenagem de humor aquoso. Por sua vez, o iStent é uma prótese de titânio com canal central que atravessa o trabeculado, aumentando a drenagem do líquido do olho.
TRABECULECTOMIA (TREC)
Indicada para glaucomas refratários ao tratamento com colírios, laser e a cirurgias menos invasivas, esse procedimento caracteriza-se pela construção de um novo sistema de drenagem no olho, substituindo o trabeculado. É uma cirurgia invasiva, com recuperação mais lenta que as outras.
IMPLANTE DE DRENAGEM ANTIGLAUCOMATOSO
Conhecido também como tubo ou válvula, apresenta o mesmo princípio da trabeculectomia, no entanto utiliza uma prótese de silicone para drenar o excesso de líquido do olho.
CICLOFOTOCOAGULAÇÃO COM LASER MICROPULSADO
Uma técnica nova de laser que aplica uma quantidade controlada de energia na região do corpo ciliar, local onde ocorre a produção do humor aquoso. Esse laser tem efeito tanto na redução da produção do líquido quanto no aumento da drenagem. Desse modo, o procedimento torna-se mais eficiente no controle da pressão e mais seguro, por aplicar uma quantidade menor de energia.
CIRURGIA ENDOCICLOFOTOCOAGULAÇÃO
A endociclofotocoagulação promove a redução na produção do humor aquoso ao aplicar o laser por dentro do olho no corpo ciliar sob visualização direta.
É POSSÍVEL VIVER BEM COM GLAUCOMA?
A qualidade de vida para portadores de glaucoma varia de acordo com o tipo e gravidade da doença, as medidas adotadas pelo paciente, o tratamento recebido e cuidados.
O tratamento regular e adequado, orientado pelo médico oftalmologista, permite que a grande maioria dos pacientes conviva com essa doença sem maiores prejuízos à qualidade de vida. Entretanto, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado do problema são essenciais para impedir a cegueira.
Dicas para pacientes com glaucoma
Ao se confirmar o diagnóstico de glaucoma, seguir as recomendações médicas é o primeiro passo para controlar a pressão intraocular e estabilizar a doença. Por isso, separamos alguns hábitos que, em conjunto com o tratamento médico, podem ajudar.
- Alimentação balanceada;
- Exercícios regulares: algumas atividades físicas ajudam a diminuir a pressão intraocular. Por isso, converse com seu médico e um profissional de educação física para saber quais são os exercícios recomendados.
Possíveis complicações da doença
Com a falta de tratamento adequado, o glaucoma pode progredir e causar a perda irreversível da visão. Em um primeiro momento, a doença compromete a visão periférica.
Dúvidas frequentes sobre glaucoma
GLAUCOMA TEM CURA?
O glaucoma não pode ser curado, entretanto a doença pode ser controlada.
POSSO USAR LENTE DE CONTATOS MESMO COM GLAUCOMA?
Nada impede a utilização de lentes de contato para pessoas portadoras de glaucoma. Porém, não é aconselhado usar o colírio de glaucoma com as lentes ainda nos olhos.
COMO PREVENIR O GLAUCOMA?
Não há como prevenir o glaucoma, mas é possível impedir a perda da visão a partir do diagnóstico precoce. Para isso, é essencial evitar que essa doença passe despercebida, até porque, na maioria dos casos, os pacientes não apresentam sintomas até que o quadro já esteja em estágio avançado. Confira alguns hábitos de autocuidado que podem ajudar tanto no diagnóstico precoce quanto no controle do avanço da doença.
- Mantenha sua rotina de exames em dia;
- Marque consultas frequentes com o oftalmologista;
- Conheça o histórico de saúde da sua família;
- Faça uso regular dos colírios prescritos;
- Proteja seus olhos de traumas;
- Pratique exercícios regularmente.
Cuidar da sua visão e manter visitas regulares ao oftalmologista são as melhores formas de garantir sua saúde ocular. Por isso, crie o hábito de realizar exames de rotina e, ao sentir quaisquer sintomas, não se automedique. Busque imediatamente ajuda médica!
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